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Famílias cuidadoras: o papel invisível de quem cuida de idosos e dependentes

Em todo o país, há milhares de famílias que assumem silenciosamente o cuidado diário de idosos, pessoas com deficiência ou dependentes. São filhos, noras, maridos, vizinhos ou netos que, sem qualquer remuneração ou preparação formal, garantem alimentação, medicação, higiene, deslocações e acompanhamento constante. São os cuidadores informais – e continuam a ser invisíveis para grande parte da sociedade. Apesar do Estatuto do Cuidador Informal ter sido aprovado em 2019, e de algumas medidas de apoio financeiro estarem em vigor, o reconhecimento institucional ainda está longe de corresponder à realidade vivida por quem cuida. Os processos de candidatura são complexos, os apoios são escassos e os serviços de retaguarda quase inexistem. Em muitos casos, os cuidadores acabam por sacrificar a sua saúde, emprego e vida pessoal. Cuidar não é uma escolha, é uma necessidade Estudos recentes mostram que mais de 70% dos cuidadores informais são mulheres, muitas em idade ativa, que interrompem carreiras ou assumem jornadas duplas e triplas para acompanhar familiares dependentes. Esta sobrecarga tem efeitos psicológicos, físicos e económicos profundos – que o Estado ainda não soube responder de forma justa e digna. As famílias cuidadoras são, na verdade, a base do sistema nacional de apoio à dependência. Substituem, sem proteção adequada, um serviço público que ainda não está plenamente estruturado. Valorizar, reconhecer e apoiar quem cuida Na CNAF, defendemos uma mudança de paradigma: cuidar tem de ser um direito com suporte, não uma missão solitária. É urgente simplificar o acesso aos apoios, criar bolsas locais de descanso do cuidador, e garantir formação e acompanhamento psicológico a quem presta cuidados de longa duração. A solidariedade familiar não pode ser uma desculpa para a omissão do Estado. O reconhecimento efetivo dos cuidadores informais é um imperativo de justiça social, mas também uma estratégia inteligente de sustentabilidade do próprio sistema de saúde e proteção social.

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Nova lei garante acesso gratuito a psicólogos escolares até ao 2.º ciclo

Entrou em vigor este mês a nova legislação que obriga todas as escolas públicas do 1.º e 2.º ciclo do ensino básico a disponibilizar acompanhamento psicológico gratuito aos seus alunos. A medida visa reforçar o apoio à saúde mental das crianças e proporcionar um ambiente educativo mais equilibrado e inclusivo. A lei estabelece que cada agrupamento escolar deverá contar com, pelo menos, um psicólogo a tempo inteiro, integrado numa equipa multidisciplinar de apoio educativo. O objetivo é identificar precocemente sinais de sofrimento psicológico, dificuldades de aprendizagem, perturbações de comportamento ou situações de risco social. Com a implementação desta medida, o Governo responde a um apelo antigo de pais, professores e organizações da sociedade civil que alertavam para a crescente necessidade de apoio emocional nas escolas – especialmente após os efeitos acumulados da pandemia e das dificuldades socioeconómicas que afetam muitas famílias portuguesas. Apoiar alunos é apoiar famílias Segundo o Ministério da Educação, os psicólogos irão trabalhar em articulação com os diretores de turma, os técnicos de ação social escolar e os encarregados de educação. O objetivo é garantir uma resposta eficaz e preventiva, que possa acompanhar as necessidades individuais dos alunos e contribuir para o seu sucesso escolar e bem-estar emocional. A Confederação Nacional das Associações de Família (CNAF) considera esta medida “um passo fundamental para proteger a infância, apoiar os pais e prevenir situações de abandono, exclusão ou sofrimento invisível dentro das escolas”. Foco no interior e zonas com maior vulnerabilidade Os concursos para colocação dos profissionais já foram lançados, com prioridade para escolas localizadas em territórios mais desfavorecidos ou com menor cobertura de serviços de saúde mental. A medida será cofinanciada por fundos comunitários até 2027, estando previsto um reforço gradual até à inclusão do 3.º ciclo e ensino secundário. Esta nova legislação representa um avanço concreto na construção de uma escola mais justa e humanizada – onde o bem-estar psicológico é reconhecido como parte essencial do processo educativo.