Nos últimos anos, o custo da habitação tem assumido um papel decisivo nas escolhas de vida dos jovens portugueses, sobretudo no que diz respeito à constituição de família. Em 2025, esta realidade tornou-se ainda mais evidente: para muitos casais, a dificuldade em aceder a uma casa própria ou a uma renda suportável adia – ou anula – a decisão de ter filhos.

Com preços médios de arrendamento a ultrapassar os 1.200 euros mensais nas principais cidades, e com os juros do crédito à habitação ainda em níveis elevados, a pressão sobre os orçamentos familiares é insustentável. Não estamos perante uma questão de luxo ou conforto, mas sim de dignidade e viabilidade. Uma família que não consegue garantir um teto estável dificilmente planeia crescer.
Os programas públicos de incentivo à natalidade têm pouco impacto quando não vêm acompanhados de políticas estruturais de habitação acessível. O recente pacote do Governo – que inclui crédito habitação a 100% para jovens até aos 35 anos e isenção de IMT – é positivo, mas insuficiente perante a dimensão do problema. A maior parte das famílias continua sem capacidade de entrada, de garantias ou de estabilidade laboral para sequer aceder a estas medidas.

Natalidade e habitação: duas faces da mesma política
Portugal enfrenta um dos mais baixos índices de natalidade da Europa. A resposta não pode ser apenas demográfica – tem de ser habitacional. Garantir habitação digna, com rendas ajustadas aos rendimentos e apoio direto às famílias com filhos, é uma prioridade nacional. E é também uma questão de justiça intergeracional.
Na CNAF, continuamos a defender que a política da família começa na habitação. Não há futuro sem casas acessíveis. E não há coesão social sem crianças a crescerem com estabilidade e segurança.


